Relatoria sobre a Conferência Estadual de Direitos Humanos

Nestes dias 30 e 31 de agosto foi realizada a VIII Conferência Estadual de Direitos Humanos. O evento teve como objetivo atualizar o Plano Estadual de Direitos Humanos e o Plano Nacional de Direitos Humanos e também eleger a chapa de delegados que irá a Brasília para representar o Paraná na XI Conferência Nacional de Direitos Humanos.

O Soylocoporti participou como delegado fazendo intervenções qualificadas, em especial, no eixo em que trabalhei que foi o III, Pacto federativo e responsabilidades dos três Poderes, do Ministério Público e da Defensoria Pública;. Além da pauta de lutas correntes, coloquei como prioridade desta conferência e da conferência nacional abrir o debate sobre a responsabilização como criminosos comuns os torturadores da Ditadura Militar no Brasil. Aprovamos na plenária final, uma moção de apoio a Tese formulada pela ABI e pela OAB que trata deste assunto. Abaixo, transcrevo a tese:

Tortura não é crime político: pela verdade e reconciliação!

– Manifesto em favor do debate e contra a impunidade e a tentativa de imposição do esquecimento –

Um debate fundamental para a democracia brasileira, há muito tempo sufocado, finalmente se estabelece de forma republicana junto à opinião pública: a questão da responsabilização jurídica dos agentes torturadores durante a ditadura militar.

Causa espécie e estranhamento o fato de que, em plena democracia, tal assunto provoque reações contrárias que rejeitam até mesmo o próprio debate público do assunto. Sob os argumentos de que o tema é inoportuno, intempestivo, e até mesmo que significa “um desfavor para a democracia” ou que “não mais interessa a sociedade’, percebe-se explicitamente um movimento, certamente motivado por interesses específicos mas nem sempre explícitos, que procura abafar as vozes daqueles que há mais de três décadas clamam e esperam por justiça.

O fato concreto é que existem no Brasil mais de 100 associações de ex-perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos políticos. Mais de 62 mil brasileiros ingressaram com pedidos de reparação na Comissão de Anistia nos últimos sete anos, restando quase 25 mil por apreciar. A União apreciou mais de 500 processos movidos por famílias que tiveram familiares mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar. Diversos particulares têm ingressado com ações no Poder Judiciário pedindo a responsabilização jurídica de quem os torturou ou levou à morte dos seus familiares. O Ministério Público Federal promove, atualmente, Ação Civil Pública contra agentes públicos que chefiaram o DOI-CODI de São Paulo. Milhares de brasileiros aguardam reparação, centenas aguardam o direito de enterrar seus entes próximos ou de conhecer a verdade histórica sobre seus paradeiros. Não se pode falar em reabrir feridas que nunca se estancaram. Estudos internacionais recentes revelam que a impunidade aos crimes (ressalta-se sempre, atos praticados na ilegalidade do próprio regime ditatorial) é fator de piora dos índices de violência e de abuso aos direitos humanos, servindo como uma forma de legitimação da violência praticada hoje no Brasil. Não há de se falar, portanto, de que se trata de um assunto do passado. É mais do que presente.

O debate que está posto não é a alteração ou revisão da lei de anistia, mas sim o cumprimento da mesma. O debate que está posto não significa afronta às Forças Armadas enquanto instituição nacional, mas sim o prestígio de sua corporação frente àqueles que não respeitaram nem ao menos as regras do próprio regime ditatorial que proibia a prática da tortura e comprometeram a sua imagem. A questão jurídica central é: se a lei de anistia abrangeu ou não os crimes de tortura enquanto como crimes políticos. O certo é que não há manifestação do Poder Judiciário sobre a questão e, por isso, a importância do debate público. Enquanto este momento não ocorrer o debate permanecerá em pauta junto à sociedade civil.

Questões fundamentais ainda não foram respondidas: Se a anistia foi ampla, geral e irrestrita, porque a anistia a Carlos Lamarca foi questionada por setores militares da reserva na Justiça? Existe correlação moral e ética entre aqueles que usurparam da estrutura estatal do monopólio da violência para torturar com aqueles brasileiros que exerceram a resistência contra uma ordem injusta que os perseguia? Que democracia é essa, incapaz de enfrentar o seu passado? A quem interessa que o debate não seja realizado e os fatos não sejam revelados? Os perseguidos foram processados e julgados e hoje são anistiados à luz da Lei n.º 10.559/02, os torturadores nem ao menos reconheceram seus atos. Como anistiar em abstrato crimes que não foram elucidados e julgados?

As organizações da sociedade civil abaixo assinadas vêm por meio desta mensagem apoiar e somar-se às iniciativas do Ministério da Justiça e do Ministério Público Federal em discutir a validade e alcance da Lei de Anistia de 1979 e os caminhos jurídicos para que, sem alteração das leis que permitiram a redemocratização do Brasil, a questão seja apropriadamente tratada no Poder Judiciário. É dever do Estado, no mínimo, promover o debate sobre as garantias fundamentais dos seus cidadãos, entre elas o direito à verdade, à memória e à justiça.

Cremos, em consonância com diversos tribunais internacionais, e com diversas cortes superiores da América Latina, que os crimes contra a humanidade não são prescritíveis, portanto, não passíveis de anistia, e que aqueles que os cometeram, fora da própria legalidade do regime de exceção, devem ser julgados e responsabilizados.

Apenas com o devido processamento e esclarecimento de todos os fatos que envolveram esses crimes é que será efetivamente possível falar em anistia, permitindo que a reconciliação nacional se consolide, desbancando a tese degenerativa da democracia de que a única solução possível para lidar com as abomináveis violações de direitos humanos perpetradas por agentes públicos é a impunidade e a imposição do esquecimento.

Esperamos de fato que a XI Conferência de Diretos Humanos paute essa luta como prioridade para fazer com que o Ministério Público inicie imediatamente as investigações sobre os desaparecidos da Ditadura e dos torturadores do regime.

Pelo amplo direito a memória e pela consolidação dos Direitos Humanos no Brasil.

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Fórum Humanista Brasileiro

Fórum abertura 1Neste final de semana, participei representando o Soylocoporti do Fórum Humanista Brasileiro, pela construção da não-violência. Na sexta, estava na abertura que contou com um painel sobre a integração da América Latina. A mesa debatedora era bastante multidisciplinar e foram obtidas diversas visões sobre esse tema tão recorrente e que ainda carece de caminhos claros para que nossos povos possam encontrar um caminho comum. Sem dúvida, observando as exposições, percebemos que a via mais concreta para que consigamos chegar a tal feito não será por nossas economias, se não, pelo nossa educação e cultura.

No domingo, também participei da mesa de migrações e Direitos Humanos que contou com a participação do professor Gediel de Direito da UFPR e a Elizete da postoral do migrante de Curitiba, além de outros companheiros que conduziram o debate sobre a carta de direitos humanFórum abertura 2os da ONU que neste ano faz 60 anos e também a importância da garantia destes direitos aos migrantes de todo o mundo, que muitas vezes são considerados sem direitos por estarem fora de seu país, mas que na verdade são eles que mais precisam ser protegidos, pois, como a Elizete citou, “o crime não está em migrar, mas sim, o crime é o mal que foi causado a esta pessoa que foi forçada a migrar”. No momento das intervenções, fiz uso do microfone para lembrar do processo que estamos vivendo junto aos movimentos sociais sobre o questionamento da legalidade em tratar os torturadores da ditadura militar como criminosos políticos. O professor Gediel respondeu concordando que para que uma nação consolide o respeito aos direitos humanos, ela deve ter direito a memória e a conhecer o seu passado para poder olhar para o futuro. A Socorro, que também estava na platéia, aproveitou a intervenção para denunciar que existem 6 companheiros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra presos sob a acusão de serem “subversivos” em Guarapuava. Em pleno século 21, após uma dura ditadura que vivemos, encontrarmos esse tipo de situação é realmente incocebível e deve ser repúdiada e denunciada.

Criminalizar os Movimentos Sociais é uma tentativa antiga dos setores conservadores deste país. Garantir nosso direito de nos manifestarmos e nos movimentarmos deve ser a principal garantia de um Estado que respeite e valorize os direitos humanos, sem isso, apenas teremos mais um papel sobre a mesa para lembrar do dia em que as pessas tentaram ser humano-racionais.

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Conferência estadual sobre Direitos Humanos

Acontece nos dias 30 e 31 a VIII Conferência Estadual sobre Direitos Humanos, que servirá de base para preparação e tirada de delegados para a Conferência Nacional sobre Direitos Humanos. Sem dúvida é um momento muito importante para articulação dos movimentos sociais ligadas a área. Cada organização, nesta etapa, tem direito a inscrever um delegado. Por isso, se você participa ou conhece alguma organização que possa participar, convide a participar deste evento que deve ser inundado por pessoas da sociedade civil organizada.

Para quem quiser saber mais o evento, confira a programação no site da CODIC: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=1430

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Seminários para o Plano Nacional de Cultura

Aconteceu ontem e hoje o seminário paranaense para elaboração do texto final do Plano Nacional de Cultura (PNC). O plano conterá as diretrizes para cultura no país para os próximos dez anos e será o instrumento dos trabalhadores da cultura para pensar e executar políticas culturais como ações de Estado e não só de governo.

O texto final, resultado de todas as etapas estaduais, será discutido finalmente na Conferência Nacional de Cultura, que formatará a redação final que será enviada para aprovação do congresso nacional. Para mim, como membro do coletivo Soylocoporti, que está pensando uma nova forma de fazer cultura, foi uma experiência bastante enriquecedora, tanto pelo contato com outras pessoas que estão pensando uma forma de fazer cultura diferente, quanto a riqueza de idéias e instrumentos que o próprio Ministério da Cultura (MinC) trouxe para compartilhar conosco.

Neste cenário, o MinC  está inovando como jamais se inovou nas políticas de cultura neste país. Enquanto antes se beneficiava as Artes e as Belas Artes, agora a política de cultura está muito mais orientada para privilegiar as culturas populares e, mais do que isso, valorizar a diversidade cultural brasileira, seja ela estando nos grandes centros ou nas favelas.

Ontem participei do grupo que debateu como proteger e valorizar a diversidade artística e cultural brasileira, nele discutimos diretrizes desde de como cataloga, integrar e preservar os acervos históricos dos museus, até como criar políticas para preservação do patrimônio cultural imaterial dos quilombolas e indígenas. Ou seja, o PNC pretende ser o mais completo plano para cultura que este país já teve e o melhor que ele foi confeccionado pelo estado em parceria com a sociedade civil organizada, a qual terá a maior responsabilidade neste processo, quando for fiscalizar a execução de tudo que foi planejado.

Hoje foi um dia de oficinas e eu participei da que tratava dos Pontos de Cultura. Nela, obtive informações interessantes sobre o programa. Uma delas é que o MinC está descentralizando a gestão dos pontos de cultura e passando atribuições para estados e municípios que se conveniarem. O Paraná infelizmente não pode se conveniar porque,  segundo a coordenadora de cultura do Estado do Paraná presente na oficina, “no ato do convênio o estado estava inadimplente”. Neste caso o município de Curitiba realizou o convênio e ainda este mês estará abrindo edital para 30 novos pontos de cultura. O interessante disso é que Curitiba não deixará de ser atendida pelo programa, mas em compensação, o estado do Paraná que tem um grande potencial de desenvolvimento cultural regional,  ficará sem essa possibilidade.

Quem quiser saber mais sobre o Plano Nacional de Cultura, visite: http://www.cultura.gov.br/pnc

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A descoberta da cidadania

Por muitos anos, o sonho de ter uma ligação elétrica era parte do cotidiano de muitas famílias espalhadas por todo esse Brasil. Toda a riqueza que o país produzia não era igualmente distribuída, de forma a levar o mesmo bem-estar que parece ser tão banal para nós, moradores da cidade, a pessoas que estavam isoladas nos mais distantes rincões brasileiros.
Aí veio um novo governo, que buscou realizar uma inversão completa nos valores que orientavam o Estado de forma a incluir aqueles que sempre foram historicamente excluídos. O Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica – Luz para Todos, lançado em 2004 pelo Governo Federal, tem o objetivo de levar a energia elétrica para população rural que até o momento não teve esse benfício da sociedade moderna. Conforme explica a própria definição do programa, encontrada no site do Ministério de Minas e Energia, “as famílias sem acesso à energia estão majoritariamente nas localidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano e nas faixas de baixa renda. Cerca de 90% destas famílias têm renda inferior a três salários-mínimos e 80% estão no meio rural”. A ligação da luz elétrica é gratuíta e pretende ser o vetor de desenvolvimento destas comunidades, que literalmente pararam no tempo.

Uma das beneficiadas foi a comunidade quilombola de João Surá (Adrianópolis-PR), que tem mais de 200 anos de fundação e que só agora, em 2005, teve acesso a energia elétrica. Um paradoxo para um país que está entre as 10 maiores economias do mundo. Apenas um fator explica este fenômeno, a falta de vontade política daqueles que sempre beneficiaram os poderosos e que não perceberam ainda que o Brasil é um país de todos. O quilombo de João Surá agora possuí luz elétrica e como forma de estender os benefícios que esse bem traz para a sociedade, a responsável pelas ligações elétricas no sul do país – ELETROSUL – dôou um pequeno laboratório de informática composto por cinco computadores à associação de moradores de João Surá.
A mesma ELETROSUL é responsável pelo edital de patrocínio a projetos culturais em que o coletivo Soylocoporti, do qual também faço parte, foi selecionado para implementar o primeiro projeto de inclusão digital nesta comunidade. Nossa missão era levar conexão de internet e treinar os primeiros beneficiados para utilização da única ferramenta de comunicação pública disponível no quilombo (mesmo que a lei das comunicações exija a instalação de um telefone público para comunidades com mais de 140 habitantes, essa nunca foi uma realidade nessa comunidade de 200 habitantes, que fez até festa para receber o primeiro aparelho prometido pelas autoridades locais, mas que nunca veio e, até onde se tem notícia, nunca virá).
Neste momento, a comunidade conta com acesso à internet* desde o dia 15 de agosto e a primeira turma iniciará o curso de quatro aulas sobre noções básicas de como operar a internet e ter acesso a informações que até ontem lhes eram cerceadas. Nas aulas, além de ensinarmos a parte técnica, trabalharemos com discussões que ajudarão os companheiros da comunidade a criarem seus próprios mecanismos para afirmarem a sua cidadania e sua cultura. O direito à comunicação é um direito humano fundamental. Criar mecanismos para que as populações exerçam esse direito é um dever do Estado, com apoio da sociedade civil. Somente quando tivermos cada brasileiro com plena conciência de seus direitos como cidadão deste país, é que consolidaremos a revolução democrática que o Brasil vive.

Marco Antônio Konopacki.
Coordenador Geral do Soylocoporti.
http://soylocoporti.org.br
[email protected]

* Tecnologia utilizada: Conexão celular padrão 1X anexada a uma antena CDMA 800Mhz com 17db de ganho. Servidor Linux rodando a distribuição Ubuntu para conexão ppp e Gateway de dados.

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A internet e o Quilombo de João Surá

Realmente a tarde do último sábado foi de muita emoção para mim. Estamos trabalhando num projeto patrocinado pela Eletrosul que visa promover a inclusão digital do Quilombo de João Surá, no vale do Ribeira, e um dos desafios era conseguir levar a internet até lá, um lugar que recentemente passou a receber luz elétrica pelo programa Luz para Todos e que agora, através de nosso proejto, também conseguimos colocar um aparelho para receber sinal de internet via celular.

Eu não acreditava que isso seria possível, mas fiquei muito satisfeito com o resultado. Agora, o nosso desafio e desenvolver uma metodologia que não transforme a internet em apenas mais um mídia a ser consumida, mas ela possa ser um instrumento de auto-afirmação da cultura e da emancipação através da informação.

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Capítulo 1 – A fusão extereogenica

Essa narrativa não é mais um conto piegas sobre um mundo perdido que todos gostariam de estar e que vibram com os acontecimentos inseridos no texto, assim como um jogo de RPG. Essa é uma história real, escrita por uma pessoa real, eu.
Não lembro direito onde ela começa, por isso, caro leitor, não se preocupe se alguns trechos estiverem perdidos, é você quem vai contar o resto da trajetória, afinal, estarei te oferecendo insumos suficientes para tal.
Acordei naquele domingo por volta das 9h20 da manhã, ou seria 10h20, bom, o horário de verão me deixa um pouco confuso mesmo. Enfim, acordei naquele domingo com minha dor de cabeça original, mesmo não tendo encontrado a boemia do dia anterior, e caminhei até meu computador onde comecei a ver as primeiras notícias do dia. As notícias não importam, afinal, elas são sempre iguais, não sei porque ainda insisto em lê-las, só gostaria de saber com quem meu time iria jogar naquele dia, afinal, gosto de futebol e meu vocabulário não é tão extenso por isso gosto tanto do esporte. Esporte faz a gente vibrar, cria um sentido para vida para alguns. As guerras campais sempre foram um motivo para entusiasmar aqueles que não gostam de simplesmente viver. Viver por viver, se você quiser simplesmente ficar sentado numa poltrona tomando qualquer tipo de bebida alcoólica e fumando qualquer tipo de capim que lhe aparecer, você gosta de guerrear. Pode não ser um sádico nem um assassino, mas você gosta de guerrear. A guerra sem objetivo ressalta o lado mais nobre do caráter humano, o egoísmo. Por que nobre? Você já viu alguém ser recompensado por acreditar em algo maior que você mesmo? Se sim, essas pessoas são poucas e são falhas do sistema padrão.
Bom, continuando a história, caro leitor, se você não quer ler essas abobrinhas, vá direto ao último capítulo, pois até meus amigos me disseram que sou um péssimo contador de histórias e que não sou objetivo no que falo ou escrevo. Objetivo, nada mais é que um ponto onde se quer chegar, como não espero chegar a lugar algum, apenas quero contar uma história, vou contar tudo, sem cortes ou discursos alternativos. Creio que você irá se divertir com as ações paralelas, afinal quem garante que já não estou contando um outro causo nesse momento?
Continuando a história, mais uma vez, agora não vou me desviar. Acordei naquele dia e também vi alguns filmes pornográficos. A hora em que somos realmente selvagens, exprime o desejo de voltarmos no tempo e sermos os verdadeiros machos dominadores que capazes de controlar tudo. Como não podemos fazer isso, fazemos sexo, o momento em que não há ilusão, é o órgão sexual penetrando no corpo de outro ser, mostrando todo o poderio humano. Como se adiantasse alguma coisa, a libertação é temporária e voltamos à estaca zero, ou melhor, à estaca zero, mas um pouco mais satisfeitos. Quer dizer, até a próxima excitação só, pois aí o comportamento dominador se sobressai e passa a controlar-nos para que possamos controlar. Engraçado isso, não é. Hoje assisto mais filmes pornográficos, afinal, faz três meses que Clariana me deixou, mas a história da Clariana eu conto depois. Agora vamos voltar ao domingo.
O domingo estava ensolarado e eu fiquei trancado em casa até as 14h00, terminando alguns trabalhos que iriam me render algum dinheiro. Merda, dinheiro e sexo, tudo no mesmo balaio, estaria feito o bosque. Elevado a um nível superior seríamos anjos, mas o bosque fica pra depois. Até darei uma receita de como criar seu próprio bosque em casa. O que é o bosque? Ainda não sei, vou descobrir enquanto conto a história. Você pode me ajudar se quiser, se prestar bem atenção você vai saber como.
Saí por volta das 14h20 para almoçar, e fui até o bosque que ficava a uns 7 km da minha casa. Eles têm uma comida muito cara lá, mas o que vale é estar no bosque, afinal todos vão lá, porque eu não iria? Ah! Esqueci que você ainda não sabe o que é o bosque. Eu também não, apenas quis chamá-lo de bosque.

Comi o suficiente para me satisfazer, ando sem apetite ultimamente, talvez sejam as malditas aerolinhas que andei tomando nos últimos dias. Belas aeromoças eu vi, não comi ninguém. Comer é um ato não subjetivo. O que é comer? Ingerir certa quantidade de insumos para te manter em pé. Minha vovó já dizia, saco vazio não para em pé. Talvez sejamos sacos no bosque esperando aerolinhas. Boa teoria, mas ainda não entendi o que é o bosque. Devemos parar a história por causa disso? Acho que não. Se você não quiser ler é problema seu. Eu vou escrever e se vai vender não sei. Credo, vender? Quando comecei a escrever isso meu desejo era meramente intuitivo, agora ele tem um motivo. Fui dominado. Meu Deus! Espere, vou fugir desse sentimento insólito. A próxima aerolinha chegou, voltemos ao bosque.
Foi quando decidi ligar para meu amigo Diego. Ele estava esperando pela aerolinha com destino a Sirenobaya. É um lugar muito bonito, mas perigoso. Pessoas morreram lá, alguns por descuido, outros por mera especulação. Essas são outras histórias que posso contar, mas só depois que terminar essa. Diego me convidou para ir até ele e tomar com ele a última aerolinha para Sirenobaya. Como não conhecia o lugar, minto, conhecia de longe, pois outrora estara em Sirenoyubi, vizinha de Sirenobaya, resolvi ir com ele. Tomei um táxi até o ponto de encontro de onde partimos para o ponto da aerolinha. Quase morri, o táxi estava andando em uma velocidade não segura para transmutações de pontos em aerolinhas, mas o motorista assegurou que ele já conhecia o trajeto e, por isso, eu poderia confiá-lo. Mesmo com essas palavras, continuei com muito medo. Outrora havia pego um táxi desses em Alacayto e, por um mínimo descuido, acabamos colidindo em um veículo imperial.

Vou encurtar a história por que se não vou escrever um livro muito extenso. Se já chegou até essa página acho que você consegue ler mais alguns capítulos. É claro que estou assumindo que a maioria das pessoas desistem de um livro na primeira página. Então, já no ponto da aerolinha, estávamos ansiosos pela sua chegada. Agora já são mais dois esperando. Diego, com sua vasta experiência, foi o primeiro a embarcar. Como eu tinha outros compromissos, esperei a avaliação de quanto tempo demoraria a voltar de Sirenobaya. Enquanto pensava, a aerolinha partiu e Diego avisou-me pela janela:

-Pegue o táxi e vá até o ponto cinqüenta e um. Se for rápido, você ainda consegue tomar essa aerolinha para Sirenobaya.

Peguei o táxi pedi para que fosse o mais rápido possível. Odeio transmutações, mas era por uma boa causa, nesse momento já estava decidido a ir até Sirenobaya.

Consegui chegar a tempo, o ponto não era tão distante do destino, mas só com a aerolinha conseguiríamos chegar lá. Embarquei no veículo e demorei a encontrar um lugar para me sentar, em domingos de sol esses tipos de viajem são muito cobiçadas. Coloquei-me bem a janela, gosto de ver a paisagem passando frente a meus olhos. Foi nessa hora que o desespero me tomou conta por alguns segundos, a visão muda a forma, tudo começa a passar mais rápido, medo, angústia e tristeza se misturam. Em seguida, a tranqüilidade toma conta do ser e consegui perceber que era apenas uma quebra de estado inicial. Sair da inércia, caminhar pelo bosque, agora flashes amarelos passaram a dominar toda a nossa visão, a velocidade começa a diminuir, estamos chegando a Sirenobaya.

Desembarcamos e esquecemos o que tínhamos deixado há alguns segundos atrás, apenas vejo Sirenobaya, um lugar realmente lindo. A grama verde, pessoas conversando sobre qualquer coisa, qualquer pessoa. A criação tem dessas coisas, primeiro se vê o que ninguém consegue ver e alguns se desprendem para que haja a inversão para o mundo dos homens. Homens, será que é isso que somos? Fantoches que buscam um sentido para vida, um sentido que pode não vir. Pode-se viver sem um sentido para vida? Em Sirenobaya creio que sim, fale sobre qualquer coisa, esse será seu sentido, não necessariamente você será um homem, mas fale, pelo menos terá um sentido.

Sentei-me sobre a relva e fiquei a observar. Luminárias amarelas indicando um ponto para Alacayto. Sobre esse lugar falarei mais tarde, mas agora posso adiantar que é o lugar mais perigoso que já estive. Lá as pessoas se enganam e a maldade é pertinente, pois ninguém é malvado. Difícil de entender? Já chega, depois você irá descobrir.
Para minha surpresa, Diego, que estava a meu lado, avisou-me que ali, onde estávamos sentados, também era um ponto para a aerolinha com destino Marycaka. Ele me perguntou se eu gostaria de ir até lá. Como quase todas as vezes que havia ido até Marycaka apreciei a cidade, decidi por aceitar o convite. Ainda bem que tenho isenção para viajar em aerolinhas. Isso porque sou uma boa companhia, para tudo que se faça. Quem me conhece, aprecia fazer a maioria das coisas comigo. Em busca de um outro mundo, no qual pudesse fazer aquilo que bem entendesse, ganhei essa personalidade de presente. Não sei em que ponto surgiu esse meu jeito de ser. Acredito que tenha sido numa aerolinha qualquer, vivendo de mundo em mundo. Talvez tenha sido herança de família, meu pai sempre foi uma pessoa muito divertida. Minha mãe, que tanto amo, gostaria de ver seu filho em uma faculdade, seguindo o que o mundo lhe oferece, realizei seu sonho mãe. Um beijo para você.
A aerolinha teve dificuldade para estacionar no píer. Diego segurou-a pelas cordas de amarra, com a ajuda de uma outra pessoa que estava a esperar o veículo. O motorista agradeceu a ajuda e finalizou o processo de aporte. Embarcamos em mais ou menos quatro pessoas. Pessoas?! Odeio esse termo, diria passageiros. Novamente me sentei à janela. Esse veículo não desenvolve tanta velocidade, como o anterior, mas de vez em quando gosto de ver tudo que passa frente a meus olhos. Já falei essa frase, não? Talvez com outra conotação. Não se preocupe se às vezes isso acontecer, faz parte da alegria de viver.
Chegando a Marycaka comecei a analisar as pessoas que estavam lá aquele dia. Não era a Marycaka que havia visitado na quinta-feira, será que houve uma guerra ela foi dominada? Isso ocorre entre os mundos conforme eles evoluem. Os homens adoram guerras. Nada disso acontecera, na verdade estava na região mais perigosa de Marycaka. Há alguns anos um abalo energético formou uma única extereógene. Marycaka também teve um pedaço seu envolto dessa nova composição. Diego não havia me avisado de que aquela aerolinha levava a Marycaka nova. Ah! Caro leitor, todas as extereógenes que participam dessa composição serão denominadas de novas. Novas porque elas não fazem parte de uma extereógene singular, na verdade a origem da extereógene é mantida, só que nesse ponto se formam túneis que interligam todas as extereógenes numa só.

Fiquei com muito medo, somente aqueles que têm forte domínio sobre o caminhar conseguem andar sobre esse tipo de região. Eu, infelizmente, ainda não atingi esse nível, por isso, Marycaka nova, para mim apresentada poucas vezes, causava-me muito medo. Até porque não havia nenhum tutor comigo. Da Maia, meu tutor original, havia tido outro compromisso que o impediu de viajar conosco. Vários fatos tentavam me iludir e levar a atravessar as barreiras psíquicas a mim induzidas. Falava a mim mesmo: “se você não demonstrar que está com medo, não haverá problema algum”. Contudo, essa técnica não funcionava e eu ficava com mais medo ainda. Medo, o que é medo para você? É algo que sua mente cria para te deixar alerta ao perigo imediato, é um simples sistema de defesa. Nós como seres racionais, como todos dizem, deveríamos ter controle sobre esse instrumento tão primitivo, mas, infelizmente, eu não tenho. Isso me torna mais fraco? Não, mais forte, só os que possuem esse sentimento podem rompê-lo.

O medo já virava pânico, os guetos daquela região começavam a articular um combate. Percebia-se que os guerreiros tomavam suas posições para o inicio imediato da batalha. A sensação era horrível, porém olhava o rosto de Diego e ele parecia sereno frente à situação. Ele já havia lutado na última guerra de libertação, conheceu quase todas as extereógenes, enfim, era um veterano e muito admirado por seu povo, não cabia o medo em seu peito.
Estar ao lado de um grande guerreiro não me tranqüilizou, nessas guerras não existem defensores ou protegidos. Cada um tem uma responsabilidade a cumprir, mesmo que ela seja a própria morte. Isso é caracterizado pela singularidade do ato de pensar. As pessoas são diferentes. Se eu executasse exatamente os mesmos passos da vida de Diego, mesmo assim não seria um grande guerreiro. Com certeza estaria em outra direção em busca do meu próprio bosque.
A batalha estava preste a começar. Não me pergunte o motivo, tente descobri-lo pelo que te contei. O agito era total, o sol ainda estava forte e o tempo não acompanhava sua velocidade. Foi quando surgiu um som que atravessava toda Marycaka, tinha características de um hino, todos pararam e ficaram a ouvir. Isso acalmou os passageiros naquele momento. O meu pânico agora é transformado em intenso prazer que me faz flutuar e observar todos do alto. Ainda vejo a depravação e o asco de Marycaka nova, mas aquele momento ela ficara mais limpa que de costume.

Ao recuperar-me do acontecimento, avisei Diego para que voltássemos, não queria ficar até o anoitecer naquele lugar. Então ele sugeriu para que fossemos esperar seus amigos, que por sinal também foram líderes de brigada no passado e que estavam dispostos a entrar na luta de minutos atrás, no ponto da aerolinha para Alacayto. O ponto era logo em frente, e por isso não tivemos que caminhar muito. A principal característica das extereógenes novas é que todos as aerolinhas passam por ali.

Diego perguntou-me se queria ir até Alacayto, mas o dia já estava sendo ruim por estar naquele lugar. Não queria correr o risco de ir até aquela extereógene. Por isso, resolvi voltar sozinho. Antes disso, Roger, um dos amigos de Diego, perguntou-me se queria ir até Eletra com ele. Neguei a oferta e continuei meu caminha de volta ao bosque. Agora tomado por uma relva branca e calma, finalmente havia deixado aquele lugar que me causava tanto medo.
Esse dia realmente era para viajar. Mas tive medo. Ainda não estou preparado para andar livremente sobre as extereógenes. Desejei boa viajem aos que ficaram. Um dia quem sabe, possa ter o controle sobre mim mesmo e andar sobre o fluxo. Enquanto esse dia não acontece, prefiro não arriscar.

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Que se vayan las ideas… que se quedén los rectos!

Corumbá, 19 de dezembro de 2007.

Eis que chegamos a Corumbá. Após recebermos ampla ajuda dos companheiros petistas de Campo Grande. Um agradecimento especial aos companheiros Nilo e Serginho.

É estranho chegar a essa cidade que é portao de entrada para que vai do Sul/Sudeste para a Bolívia. Em quatro vezes que fomos pra lá, em nenhuma adotamos este caminho convencional. Agora estamos estamos nessa rota por se tratar do caminho mais curto e mais rápido. Antagonicamente, nunca demorei tanto para chegar a Bolívia quanto desta vez. Esses 3 dias estao sendo eternos. Ainda tenho coisas para resolver.

Ontem participamos da posse do diretório estadual do PT do Mato Grosso do Sul. Em meio a discussoes apáticas (em um deles o ex-presidente chegou a valorizar a alianca do Partido com a direita) destacou-se a fala do Pedrao, condidato pela chapa “Mensagem ao Partido” do MS. Pedrao colocou o papel da juventude como fundamental e o processo na América Latina irreversível!

A noite ficamos esperando 6h pelo onibus que nos traria até aqui, o que me permitiu ler muito do Baghavad Gita e obter alguns ensinamentos que me fizeram relaxar toda a tensao que sentia.

Depois da leitura, saí para jantar com Emanuel e seu recém-amigo Paulo. Paulo era um mala que encontramos na rodoviária, mas que tinha o coracao puro e muita história para contar. Estava indo para Corumbá rever a família e tentar trabalhar na construcao de fornos de carvao na Bolívia. Antes disso ele estava numa cidade chamada “Inaraí” como cortador de cana. Reparti meu PF com ele e tomamos duas cervejas.

Foi aí que conheci sua história com a uma boliviana chamada Bibiana. Lindo nome, diretamente dos histórias de Érico Veríssimo, as mesmas histórias que já conhecia e da mesma personagem, pela qual já me apaixonei.

Mesma com as juras de amor, Paulo e Bibiana nao derao certo. Bibiana, como típica boliviana, gostava muito de sopa. Paulo, o brasileiro, muito de feijao com arroz. É, quando nao é pra ser, nao adianta insistir.

Agora é manha em Corumbá, já estávamos circulando pela cidade quando as lojas abriram. Fomos mirar a bela vista do pequeno porto a beira do rio Paraguai, este que é a principal hidrovia e tem grande importancia para a regiao. Rio ParaguaiAproveitei e fui até o Banco do Brasil fazer um depósito em minha conta para que possa sacar de lá da Bolívia. Neste período, um senhor veio até mim pedir-me ajuda para realizar um saque. Estes sistemas de banco sao uma merda, facilidades para depositar, dificuldades para sacar. Neste momento o senhor fez com que a esposa se posiciona-se para sacar. Como é meu costume, coloquei-me a disposicao para ajudar a fazer a transacao, nao fazer por ela. Foram 15 minutos para tirar um saldo e fazer um saque. Procurei estar paciente neste período, enquanto o senhor parecia irritado com a esposa pelo erros que ela cometia fazendo as operacoes. Na mesma hora, refleti sobre acontecimentos pessoais maus em que nao fui tao paciente para ensinar e me vi dali 50 anos como um velho ranzinza que acha que sabe tudo, mas nao sabe compartilhar seu conhecimento. Acho que terei uma nova atitude daqui pra frente.

Segundo os escritos sagrados do Baghavad Gita, os seres vivos estao neste plano simplesmente como servicais. Cada pessoa serve a outra num ciclo infinito neste plano material. Alguns destes servicos podem ser trabalhos nossos neste plano, estes sao chamados karmas. Pollo…Ou seja, nao podemos reclamar ou nos tornar indispostos para servir ao outro, na verdade devemos faze-lo com amor e com compreensao, nao esperando nada em troca neste plano material, mas sim uma paz superior naquilo que chamamos de alma.

Neste momento, já estamos em Puerto Quijarro aguardando o trem. Depois de sermos informados que nao haveria passagens para hoje, falamos que éramos um meio de imprensa e nos conseguiram uma passagem para daqui a pouco.

Vamonos! Vamonos a Santa Cruz!

Fotos por Emmanuel Peixers

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Antes ainda de tudo…

Curitiba, 15 de dezembro de 2007.

Hoje vivi um dia atípico. Fui tomado do início ao fim de um sentimento que nao sei explicar.

Inseguraca, medo, quebra de conceitos e paradigmas. Vamos mais uma vez a terra da Pachamama acompanhar um dos períodos mais delicados da história da Bolívia. O que se vê no jornal é que existe um sentimento separatista muito forte e que o racismo para com os povos do altiplano se acentua a níveis que até mesmo a ONU se preocupa.

Estou levando uma literatura sobre o assunto, um presente que minha mae me deu, e aproveitarei esta viagem para que seja um momento de estudo profundo e de uma reflexao tanto quanto ideológica quanto pessoal.

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Entrando num novo ritmo

Mais uma vez pegamos a estrada. Saímos ante-ontem de Curitiba rumbo a esta cidade com um pouco de Paraguai, com um pouco de Bolívia. Campo Grande, no coração do Mato Grosso do Sul é capital que nos recebeu antes de seguirmos rumo a Corumbá na Bolívia.

Tivemos uma recepção ótima, estamos na casa da Morgana, grande companheira do movimento estudantil, que nos acolheu e está servindo de base para conseguirmos transporte para Corumbá. Aliás, gostaríamos de agredecer os companheiros do diretório estadual do PT, que nos acolheram e hoje, irão conseguir uma carona para gente que nos levará até a fronteira.

Aliás, enquanto aguardamos, já conseguimos algumas agendas interessantes aqui na cidade. Ontem fomos convidados a participar de uma sessão de cinema promovido pelo Cine Cultura (http://www.cinecultura.com.br/), associação em defesa da Cultura aqui em Campo Grande que promove exibições de filmes do circuíto alternativo. Lá conhecemos a Luana, coordenadora do projeto que ficou com uma cópia de nosso documentário o “36“.

Para mim, pessoalmente, está sendo muito difícil esse início de viagem. Estou com um sentimento apertado no peito por estar quebrando um ritmo que me consumiu durante todo esse ano. A rotina pode até não matar, mas chega perto, e quando nos vemos longe dessa aparente “ordem”, parece que nosso cérebro e nosso corpo leva algum tempo para se adaptar. Hoje conversei com Emanuel, companheiro jornalista que está viajando com a equipe. Ele me falou muito sobre esse “fenômeno”. Citou alguns amigos deles que o chamam de louco, por não seguir o velho ritmo: trabalho estressante semanal, futebol e cerveja no sábado, sexo com a esposa no domingo. Olhando por esta pespectiva, os seres humanos não passam de robos programados desde pequenos pela sociedade desde crianças. Coincidentemente, ontem assisti um pedaço daquele filme “Eu, robô”, e me dei conta que realmente somos seres autônomos, dotados de uma inteligência controlada da qual nós mesmos não somos donos.

Espero que eu consiga ter uma adaptação tranquila. Para relaxar, comecei a ler alguns livros emprestados do Emanuel sobre os ensinamento de Krsna que acredito que me ajudaram a relaxar. Talvez uma parte desta inquietação é que gostaria que outras pessoas especiais da minha vida também estivessem quebrando essa rotina comigo. Distantes de um novo tempo, chegou a hora de uma reavaliação profunda. Espero que essa viagem além de servir para o coletivo Soylocoporti como um ensaio político de uma revolução em marcha, também sirva para que cada um dos companheiros em trânsito se reinventem como serem melhores para o mundo e para si mesmos.

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