E o nosso lixo?

Há algum tempo venho refletindo sobre o nosso lixo. Tudo que produzimos enquanto seres humanos compartilhando um mesmo planeta. Consumimos inúmeros recursos, mas sabemos realmente tudo que estamos consumindo e, será que sabemos para onde irá os recursos descartados depois de seu uso?

Essas reflexões são desafio de grande análise quando encontramos um mundo em crise com seus recursos naturais. Que depende de energia, de água e recursos orgânicos para o mantenimentos de toda a vida na terra, principalmente a vida do único animal capaz de refletir sobre a sua realidade e interferir sobre o destino dela.

Por isso, acho importante que todos nós refletamos sobre tudo que usufruimos durante o dia. Pensarmos se o descarte daquilo que não utilizamos está proporcionando produzir outros recursos para utilizarmos no futuro.

Essa semana percebi que o “puxa saco” (instrumento para facilitar o armazenamento de sacolas plásticas para seu uso futuro) da minha cozinha está diminuindo e hoje está com nenhuma sacola. Isso foi resultado de um processo de disciplina em evitar aceitar sacolas plásticas nas compras do dia-a-dia. De ter um saco reutilizável para buscar algum produto que você sabe que não irá conseguir trazer com as mãos.

As sacolas plásticas são feitas de petróleo, um recurso não-renovável. O conteúdo energético do plástico é igual ao do óleo diesel e superior ao da gasolina. Ou seja, têm um custo energético para o planeta muito grande e, com a ampliação da densidade populacional de nosso planeta, com certeza contribuirá para a ampliação das alterações ambientais que estão levando a humanidade a bancarrota.

Acredito que se algum dia o fetiche capitalista do consumo for compreendido por cada cidadão (ou pela maioria pelo menos), poderemos equilibrar a relação entre o que consumimos para o mantenimento de nossa vida na terra, e o que consumimos simplesmente porque nos fizeram crer no consumo e que nos fez desligar sobre a reflexão do consumo.

No nosso cotidiano, isso pode ser simplesmente tendo cuidado com o lixo, saber que produtos devem ser descartados no lixo comum, qual deve ser reabsorvido pelo ambiente (porque não montar uma composteira em casa?), qual você pode transformar para continuar consumindo?

Talvez encontramos um equilíbrio na terra seja tarefa de alguns milhares de ano. Mas começar esse trabalho pode ser questão fundamental para aqueles que acreditam que a mudança pode ser agora.

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Doações de Natal para Aldeia Guarani em Piraquara

Estamos começando hoje a campanha de Natal para as crianças da Aldeia Araçaí em Piraquara.

Pretendemos levar brinquedos para 32 crianças e fazer uma confraternização com frutas no dia 20/12/2008.

Pedimos a sua colaboração em forma de doação de R$ 3,00 (ou mais) em forma de depósito na conta 1633.013.3032-1 em nome de Rousecler M G Baroni.

Tudo o que for arrecadado será revertido para a aldeia.

Equipe RETPV Mal. Floriano (contato Rouse).

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A parte que me cabe neste latifúndio

Por Marco Antônio Konopacki para o curso de Relações Internacionais SRI-PT / FES

A década de 1990 foi marcada pelo avanço das políticas neo-liberais e com ela, alguns mitos surgiram para referendar as políticas econômicas de desregulamentação e de reformulação das estruturas estatais. A força do capital transnacional fez com que o mito da eliminação dos Estados-nação em substituição por uma grande “aldeia global” se tornasse a principal bandeira dos governos neo-liberais para implantação de sua política. O ponto de inflexão deste debate está na análise do papel do poder político dos Estados e como este se relaciona com o poder financeiro. A história nos mostra que existe uma relação simbiótica entre essas duas formas de exercer o poder e que o processo neo-liberal fez com que estas veias ficassem aparentes, quando os governos dos Estados periféricos se sujeitaram às grandes reformas neo-liberais como forma integrar seus países ao comércio mundial, mas que no fundo, ampliaram as diferença e a dependência com relação aos países do centrais do capitalismo.

A onda de esquerda que elegeu boa parte dos presidentes latino-americanos a partir de 1998, deixou claro que o poder político dos Estados-nação tem papel preponderante nos ajustes e direcionamentos das economias nacionais na inserção de seus países no processo de globalização, ao contrário do que apregoava o pensamento do Estado mínimo. Neste sentido, é muito importante nos pormos a refletir sobre algumas questões. Qual o verdadeiro papel destes Estados-nação na definição de políticas internas e externas que os levem a busca de melhores condições dentro do cenário internacional? Como estes buscam sua representatividade ou consolidação dentro de um cenário internacional cada vez mais competitivo?

A política internacional sempre foi pautada na relação entre Estados-nacionais que buscavam na troca de mercadorias o principal objeto de sustentação de relações. Na era dos estados colônia, a troca se pautava na compra e venda de produtos primários que sustentaram as revoluções industriais dos países centrais do capitalismo global. Mesmo sendo uma relação colônia metrópole, já se criavam condições para formação de movimentos sociais de independência que buscaram a quebra desta relação para que a venda de seus produtos passasse a ser diversificada e, basicamente pautava sua independência política para determinar as relações econômicas na forma que elas se dariam. Para se ter como referência, na América Latina até o seu processo de industrialização, 88% das riquezas geradas pelas colônias eram exportadas.

Com os movimentos de independência política, as antigas colônias conseguiram formar suas instituições políticas para sua organização, mas não se livraram de sua situação de exportadoras de mercadorias primárias. Nesta época, o acenso de movimentos sociais liderados pelas burguesias locais ocuparam o poder político dos Estados e aplicaram políticas desenvolvimentistas dependentes do capital internacional. No Brasil, temos este movimento muito claro com a revolução de 30 em que acende ao poder Getúlio Vargas e implanta uma ampla política de industrialização, consolidada após a segunda-guerra mundial. Neste momento, o papel do Estado foi fundamental para tal, inclusive para a reforma trabalhista implantada, que lhe garantiu sustentabilidade social durante o período.

Durante esse período, os Estados Unidos procuram consolidar sua posição de influência em toda a América Latina, seja por força militar, seja através do venda de capitais ou, em muito dos casos, das duas formas. Essa característica expansionista é inerente do processo de conquista e acumulação do poder, que é anterior inclusive aos processos de troca do comércio mundial. Este acaba sendo resultado do empoderamento e intensificação do caráter expansionista do capital que se alimenta num círculo virtuoso. O movimento de expansão não é determinado pura e simplesmente do capital, mas sim da necessidade de exercer o poder e expandi-lo sob a pena de ter seu poder reduzido. A passagem da histórica que clarifica este fenômeno está na própria idade media, na qual os impérios feudais, tinham como o movimento de conquista de territórios determinantes para a sua sobrevivência. “A guerra, a moeda e o comércio sempre existiram. A originalidade da Europa, a partir do século XIII, foi a forma que a necessidade de conquista induziu e depois se associou com a necessidade do lucro. Por isso, a origem histórica do capital e o do sistema capitalista europeu é indissociável do poder político” (FIORI, 2007).

Após a segunda-guerra mundial, os Estados Unidos assumiram sua posição de ente hegemon do sistema com a responsabilidade de regular os padrões de trocas comercias em todo o mundo e manter a paridade ouro-dólar. Este período foi caracterizado pela era mais exitosa do capitalismo mundial, com os Estados Unidos liderando o desenvolvimento mundial e o apoio a formação de novos “sócios” que passariam a integrar o comércio mundial. Este movimento é ainda mais intenso devido ao momento da Guerra Fria em que o mundo se encontrava e onde os Estados Unidos tinha identificado seu maior rival, a União Soviética.

Com o final da Guerra Fria, os EUA viveram durante a década de 1990 o gosto de um mundo unilateral em que ele exercia a centralidade militar e monetária na forma de um superestado. A ideologia capitalista havia “vencido” e o final da história chegara. Contudo, neste mesmo período, o número de guerras aumentou exponencialmente e a legislação internacional regrediu rumo a um processo de intensificação das restrições, principalmente para os países da periferia do sistema. Isso foi contra a ideologia realista que acreditava que com a consolidação de um ente hegemônico na sociedade, este seria capaz de solidificar o sistema no caminho de uma superestrutura capaz de regular todas as funções do sistema. Também foi contra a ideologia liberal que preconizava que com a intensificação do comércio mundial, os conflitos entre os Estados não teriam razão de ser porque, com o aprofundamento de suas relações comerciais, os custos de uma guerra trariam desvantagens para o comércio mundial e o aumento de preços globais dos produtos, o que desagradaria as elites sustentadoras dos poderes políticos dos países.

Neste mesmo período que os Estados Unidos experimentaram sua posição unipolar no sistema mundial, coincidentemente, o número de Estados nacionais se multiplicaram num movimento que se deu durante todo o século XX, mas que tiveram sua consolidação neste período. Como explicar esta relação da formação de estados independentes e o processo de “derrubada” das fronteiras das estruturas nacionais com a chegada do neo-liberalismo? Sem dúvida esse sempre foi um mito, que tentou justificar os processos de desregulamentação do sistema financeiro dos países que integraram o grande bloco neo-liberalizante. Na verdade, com a chega do século XX, houve uma universalização e não a morte dos Estados nacionais. Com o “fatiamento” do mundo, ficou muito mais fácil consolidar os “sócios” do sistema, de forma a criar novas estruturas financeiras nacionais em cada uma destas novas peças no tabuleiro do jogo de xadrez mundial. Uma pizza inteira é quase impossível de ser engolida de uma vez só, mas quando esta está fatiada, pode-se degluti-la pedaço a pedaço, mesmo que isso leve mais tempo. Levando-se em consideração, neste caso, a união do poder político com o capital privado nos Estados nacionais a serem conquistados. Inclusive, foi esta união que levou a Europa a ser o centro dominante do mundo e o lugar onde a riqueza mundial começa a se concentrar de forma geométrica a partir do século XVI.

Logo, os Estados nacionais têm na sua forma política força e papel fundamentais para o ordenamento e orientação estratégica para definir os caminhos de suas nações. Mas também, podem ser instrumentos de manobra para implementação de projetos e iniciativas alheias a sua orientação, devido ao fato de o poder econômico estar constantemente influenciado as estruturas políticas do Estado e vice-versa. Essa relação dialética,deve ser estar esclarecida para que o debate não seja equivocado a tal ponto de anularmos a porção política do Estado e decretarmos sua morte através da hegemonia das estruturas econômicas que seriam responsáveis pela nova orientação das nações. A atual crise financeira, inclusive, representa o quão este lado político, esquecido e minimizado durante o processos neo-liberal, agora é tido como importante para salvar instituições financeiras seculares que foram a bancarrota e que agora vêem no Estado a única fonte de salvação.

Aos países periféricos, que até o momento tiveram seu papel político enquanto Estado sub-julgados pelo neo-liberalismo, cabe agora refletir a sua importância enquanto entes ativos na determinação de seus próprios caminhos enquanto nação formada por homens e mulheres que produzem dentro de suas fronteiras as riquezas das nações e caminhar para um projeto que não beneficie a especulação financeira, mas que valoriza o capital produtivo de seus países. Este momento de crise, pode ser uma janela de oportunidade dos países periféricos cobrarem a sua dívida com o capital internacional e reivindicarem uma parcela maior na divisão de riquezas internacionais.

Bibliografia
1.FIORI, José Luís. O poder global. São Paulo: Boitempo, 2007.
1.NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Elsevier Editora, 2005.
2.WIKIPEDIA. Getúlio Vargas. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Getúlio_Vargas).

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Charges colombianas

A Colômbia vive um estado de negação aos fundamentos democráticos que não é propagandeada por aqui, pelo contrário, colocam Álvaro Uribe no pedestal com este fosse o caminho para “integramos” a América Latina aos mercados mundiais, liderados pelos supremo rei os Estados Unidos, claro. O fato é que quem vive lá conta uma história bem diferente da “eficiência” de Uribe no combate as drogas.


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Festival da Primavera em Pontal do Sul

Aconteceu neste último final de semana o Festival da Primavera em Pontal do Sul. A iniciativa é do CAMar (Centro Acadêmico de Oceanografia) com o apoio do CEM (Centro de Estudos do Mar), da PRAE (Pró-reitoria de Assuntos Estudantis) e da Prefeitura de Pontal do Paraná. O evento reuniu mais de 2000 pessoas nos três dias de atividade e atingiu seu objetivo que era criação de um espaço que ampliasse o diálogo entre a Universidade e a comunidade de Pontal do Paraná.

Mandai, banda de musica brasileira se apresentando no primeiro dia de Festival.

Mandai, banda de musica brasileira se apresentando no primeiro dia de Festival.

A metodologia de trabalho foi a realização de oficinas na parte da tarde e a apresentações culturais durante a noite. Todas essas atividades foram concentradas na praça central de Pontal do Sul, cidade conhecida como rota de passagem de turistas para a Ilha do Mel, mas que desta vez experimentou seu papel de protagonista do Festival da Primavera.

Essa foi a segunda edição do Festival. Segundo Camilo Vanni, um dos organizadores do Festival e membro do CAMar, “do ano passado para cá o Festival evolui muito, a começar pela saída da estrutura do CEM para a praça central de Pontal do Sul. Isso faz com que cumpramos nosso objetivo que é integrar a comunidade pontalense as atividades que a Universidade Federal realiza em Pontal do Sul. Acreditamos que mais esta ferramenta de extensão universitária pode se consolidar como um projeto de longo prazo muito importante para o desenvolvimento humano do município”.

O Soylocoporti apoia este tipo de iniciativa e como forma de diminuir as barreiras do acesso a cultura as comunidades afastadas dos grandes centros e também como forma de incentivar para que esta população possa se inspirar na criação de seus próprios espaços.

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Eu e o Célio Turino

Eu e o Célio Turino

Eu e o Célio Turino

Participei hoje do lançamento do programa Cultura Viva para a cidade de Curitiba. Lá estava o Célio Turino, Secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura. Gostaria de demonstrar a minha satisfação, pois o Célio foi um dos principais responsáveis pela implantação do Cultura Viva na gestão do Ministro Gilberto Gil e é uma das pessoais mais capacitadas para trabalhos de gestão cultural neste país.

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Confirma, confirma, confirma.

As eleições 2008 mais uma vez marcaram a festa da democracia, mas onde está meu pedaço de bolo? E o meu chapéuzinho? Infelizmente em Curitiba, percebi que nos últimos anos esta festa é feita única e exclusivamente por palhaços e palhaças.

Fiquei ontem o dia inteiro na rua participando das eleições. Além de ser fiscal do meu partido, aproveitei os últimos instantes para fazer boca de urna para o meu candidato. Esse tipo de atividade é ilegal, mas fundamental, pois sempre você encontra um velho amigo seu na fila, um velho professor, pessoas que as vezes nunca mais você viu, mas que confiam em você, ou ao menos confiam mais em você do que no candidato que elas escolheram ou, ainda pior, confiam mais em você do que na propaganda que ela viu na televisão, no rádio ou num santinho pego na frente do colégio em que ele ou ela iriam votar. Olhando por esse ângulo, será que ninguém percebeu que tem alguma coisa errada nesta festa? Tem alguém vomitando pela janela da televisão e ninguém foi ajudar a pobre coitada da democracia que já entra em coma por tanta droga que injetam nela todos os dias.

O que percebi nestas eleições é que ela foi uma das menos politizadas de todos os tempos. Poucas pessoas com força para defender seu candidato, poucas pessoas utilizando adesivos no peito para votar, poucas pessoas com um semblante de que estavam realmente construindo sua própria participação. Pareciam com robôs indo em direção a tecla verde de confirma, confirma, confirma induzidos por uma propaganda massiva, quase como uma programação dos nossos cérebros para repertimos muitas vezes o digitar daquelas teclas e ajudar a legitimar toda essa estrutura que a maioria tem pouca ou nenhuma participação, mas que mesmo assim, a cada dois anos, são convencidos de que sua participação é muito importante.

Curitiba deu um cheque em branco para Beto Richa ao elegê-lo com quase 80% dos votos. Um cheque em branco para ele aproveitar e gastá-lo nos cassinos de Las Vegas, cidade para qual ele está se dirigindo neste momento para “descansar”. Enquanto isso, nós que pautamos uma outra cidade possível, teremos que agüentar o peso nas costas daqueles que querem nos esmagar. Chegou a hora de juntarmos os nossos cacos, pois tudo que não nos mata, nos fortalece. Chegou a hora de construirmos uma verdadeira nova cultura política. Disputar as eleições não é nada fácil, agora, disputar a sociedade é tarefa muito mais difícil de que qualquer coisa. Não é a toa que dedicamos uma vida inteira para convencer parte da sociedade de que ninguém deve ser palhaço de ninguém. Todos nós temos autonomia para decidir sobre o nosso futuro e todos nós temos direitos sobre os espaços públicos e os instrumentos de poder que compõem o Estado Democrático de Direito.

Espero que em 2010 os únicos palhaços que eu veja sejam os fantásticos artistas cênicos que levam amor e esperança para aqueles que precisam.

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Relações sul-sul para construção de um mundo multipolar

Por Marco Antônio Konopacki para o curso de Relações Internacionais SRI-PT / FES

A história recente da humanidade, do pós-segunda guerra mundial até 1991, se organizou em torno de dois grandes polos de poder, os Estados Unidos e a União Soviética. Essa sistematização dicotômica determinou nos últimos anos a forma de como as Relações Internacionais se dariam até a queda União Soviética em 1991. Mesmo com a criação das Nações Unidas (ONU), em 1945, a estrutura bipolar de poder não permitiu que os países pudessem se articular em torno de grupos regionais de poder, pois eram atraídos pela tendência bandwagon de se aliar aos líderes hegemônicos. Neste momento, as Nações Unidas não passaram de um instrumento para organizar os Estados para luta contra um inimigo comum situado do outro lado da cortina de ferro, liderados pelos Estados Unidos contra a União Soviética.

Após a queda da União Soviética, o mundo experimentou momentos de uma unipolaridade pela hegemonia total dos Estados Unidos, mas que não se sustentou, pois novos polos de poder passaram a ocupar papel de destaque no cenário internacional, principalmente a União Européia. Seguindo a tendência de construção de poderes regionais, foram articulados novos blocos comerciais com o intuito de fortalecer os mercados regionais, dentre eles, o de maior destaque para nós, o Mercosul. Estes blocos regionais são ferramentas para fortalecimento do poder regional, mas em muitos momentos, durante a implantação do projeto neoliberal (1990-2000) para os países em desenvolvimento, serviram de estrutura de anexação de mercado, devido as posições submissas que os países membros destes blocos assumiam internacionailmente, o que levou a acentuação das diferenças econômicas entre as nações e o aprofundamento das desigualdades sociais compartilhadas por estas nações.

A partir da eleição de novas lideranças na América do Sul, com uma visão soberana sobre seus territórios, começamos a vivenciar diferenças na forma em que as relações internacionais entre esses países passaram a se dar. Os blocos comerciais passaram a ser vistos como forma de integração regional não apenas voltada ao liberalismo econômico inter-fronteiras, mas também como forma de articulação política entre as nações para se constituir como polo de poder alternativo nas discussões no plano internacional mundial. Luis Inácio Lula da Silva, Hugo Chavez e Nestor Kirchner são os principais líderes destas nações que buscam o fortalecimento regional do Mercosul e que se utilizam da articulação política do bloco para pleitear demandas históricas destes países em organismos internacionais como a OMC e a ONU e como está sendo a luta pela redução dos subsídios agrícolas na Rodada de Doha, ainda não concluída.

Estes fenômenos não são só comuns a América do Sul, mas percebemos uma maior articulação dos blocos regionais em diversas regiões do mundo. Isto está caracterizando o surgimento de um novo cenário internacional multipolar que inclusive está contribuindo para o equilíbrio das relações de poder no plano internacional. Segundo a visão realista em Relações Internacional, este fenômeno contribuí para o surgimento de alianças entre os polos de poder, o que num cenário bipolar não é possível, porque cada um dos polos só se preocupa com o outro polo e com suas capacidades, assim como o seu poder de aglutinar novos países (NOGUEIRA & MESSARI, 2005).

O cenário multipolar está permitindo experimentar novas relações entre países que antes não eram possíveis pela restrição bandwagon de aglutinação em torno das potências hegemônicas. Isto oportuniza para que países como o Brasil, estabeleçam relações com outros países, também em desenvolvimento, africanos e asiáticos, especialmente a Índia e a China, com uma lógica integracionista muito mais solidária e não hegemônica. Segundo Kant, essa é o primeiro passo para que as relações entre países se dê de forma justa e pacífica. O presidente Lula, através de seu ministério de relações internacionais, foi o primeiro presidente da era contemporânea do Brasil a buscar relações multipolares, integrando inclusive a África neste processo, e a buscar a construção não hegemônica de suas relações internacionais, exemplificada nos últimos incidentes internacionais com a Bolívia e o Equador. Nestas ocasiões, a postura do governo brasileiro sempre foi de diálogo com estes países, mesmo enquanto a “opinião pública” através dos grandes jornais e revistas brasileiros incitavam, e incitam como no caso Odebrecht com o Equador, a intevervenção econômica nas relações bilaterais e se esta não for exitosa, na intervenção militar. Foi assim no caso da nacionalização dos hidrocarbonetos da Bolívia, em que uma das revistas semanais de maior circulação no país sugeriu o envio imediato de tropas brasileiras para a fronteira. Sem dúvida, a macro-estrutura de poder, latente dos idos da colônia e que guarda na elite brasileira seu maior ranso, vê a liderança regional do Brasil na forma hegemônica e cruel, talvez como forma de reproduzir em nossos irmãos latino-americanos, a mesma lógica exploratória que vivemos em nosso tempo de colônia e que até pouco tempo atrás vivemos com relação aos Estados Unidos.

A busca de uma integração regional e a diversificação das relações internacionais, especialmente com países do “sul”, está lançando uma nova lógica de como os países se organizam e como tratam suas relações econômicas, políticas e culturais. Durante a adaptação das economias para o modelo neoliberal, a cultural a economia e a política sofrem um processo cruel de normatização internacional para consolidar um ambiente mais seguro e estável para os negócios internacionais. Contudo, esse modelo foi inspirado nos conceitos e fundamentos dos países hegemônicos, o que gerou diversos choques nas economias, na cultura e na política periféricas. O olhar para consolidação de relações com países que tem uma história comum, e sofrem das mesmas mazelas econômicas e sociais, nos faz refletir sobre uma outra integração possível e uma outra “normatização” dos fundamentos sociais possível. Um normatização que respeite as diferenças e que seja, acima de tudo, solidária para construção de um ambiente que tenha como centro o bem estar dos povos destas nações e com o comércio internacional a serviço deste, e não como meio para este.

Neste sentido, o Brasil está desempenhando um papel fundamental de lidença para consolidação das relações sul-sul como forma alternativa para desconcetração do poder internacional na criação de novos polos de poder regional. O governo Lula, está utilizando o reconhecimento internancional do Brasil na luta contra a fome, do respeito aos direitos humanos e dos direitos das comunidades tradicionais e da luta pela conservação da Amazônia, para inserir o Brasil de uma vez por todas no protagonismo da política internacional. Como o próprio ministro de relações exteriores, Celso Amorim, afirma quando declara que não é possível que um país como Brasil, com todas as suas riquezas, com o tamanho do seu território e seu povo, tenha tido uma posição subalterna no plano das relações internacionais. O fortalecimento do Mercosul, a ariticulação da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) e do Fórum do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), demonstram a liderança do Brasil na construção de novas formas de integração multipolares, num contexto de nações multi-étnicas, em que a busca do consenso através do dialógo deve ser primordial para o respeito da diversidade e para a integração não hegemônica das nações.

Esse faceta da política externa brasileira também é exercitada na intervenção dentro dos Fóruns Internacionais, como a ONU e a OMC. Dentro da Rodada de Doha, o Brasil foi responsável pela articulação do G-20, que incluía todos os países emergentes que lutam, contra os biolionários subsídios agrícolas dos países desenvolvidos e que no ato da conferência da OMC em Cancún, pretendiam usufruir de sua posição hegemônica para encerrar a discussão em torno deste tema. Foi através do G-20 que as discussões tomaram novo fôlego e as pressões contra os subsídios se intensificaram. Na ONU, o Brasil também é um forte candidato a um assento permanente no Conselho de Segurança, o que consolidaria sua liderança na América do Sul e contribuíria para garantia da nossa própria segurança e soberania na região, visto as riquezas naturais e econômicas que o país e o continente guardam e que até hoje, não puderam ter seus interesses defendidos neste organismo internacional. A acenssão do Brasil como verdadeiro protagonista internacional e líder dos países da América do Sul, torna injustificável a sua ausência no conselho permanente de segurança da ONU.

De fato, a construção de uma nova visão de mundo para nós, nações sempre colocadas a esmo da política internacional, perpassa por uma discussão interna em que só nós mesmos, através da observação de nossa própria realidade, poderemos dizer que caminho seguir e, principalmente, como segui-lo. Estamos vivendo os primeiros benefícios da desconcentração do poder internacional e da multilateralização do comércio internacional, quando os mercados hegemônicos, em especial o estadunidense, desabam com crises financeiras trilhonárias e nós conseguimos manter certa estabilidade frente estes fatos. Contudo, não podemos esquecer que a construção dos alicerces a esta nova visão de mundo das nações do “sul”, deve lançar bases culturais e sociais fortes para que este processo não seja efêmero e restrito aos governos progressistas destes países. Por isso, a disputa social destes ideais deve acontecer a cada dia, através do exemplo e da construção da nossa própria nova história. Só assim, poderemos olhar para semelhetantes vizinhos como irmãos e entramos de mãos dadas pelas portas dos grandes organismos internacionais que, se por um ponto, são reprodutores da lógica hegêmonica de demonstração de poder, por outro, segundo Celso Amorim, “podem ter suas limitações, mas são a via institucional mais adequada para realizar as aspirações de justiça e bem comum nas relações entre os Estados”.

Referências

  1. AMORIM, Celso. Conceitos e estratégias da diplomacia do governo Lula. Revista DEP (Diplomacia Estratégia Política). 2004;

  2. AMORIM, Celso. A diplomacia multilateral do Brasil. Um tributo a Rui Barbosa. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão. Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2007;

  3. GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. Contraponto, 2005;

  4. NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Elsevier Editora, 2005.

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