Continuo refletindo sobre como estamos lidando com os recursos naturais de nosso planeta. Enquanto estava no Fórum Social Mundial, esta reflexão foi ainda maior. Foram retiradas 250 toneladas de lixo dos territórios do Fórum. Será que a discussão de outro mundo possível está associado de como esse outro mundo irá se sustentar?
Acabo de ver uma reportagem no programa dominical da rede globo, fantástico. Nela, a triste denúncia da formação de uma verdadeira ilha de lixo em formação no pacífico norte, duas na verdade. Estas ilhas foram formadas devido as correntes marítimas, que nesta região têm um comportamento cíclico. Aliadas às condições de temperatura e pressão, produzem uma região de concentração de resíduos sólidos. Estimasse que a “ilha” de lixo possa ter a extensão territorial dos estados que compõe a região sudeste e que sua massa chegue a 100 milhões de toneladas.
Cito ter visto esta reportagem no programa fantástico, porque também não poderia deixar de citar a contradição latente na sociedade capitalista do fetichismo. Mesmo exibindo uma reportagem de quase 10 minutos pontuando que este é um desastre ambiental e que todos devemos olhar para o planeta com mais cuidado, o fantástico exibe na sequência de sua pauta o concurso de beleza “menina fantástico”. Ora, como se pode ter convivendo em harmonia a preservação da vida do planeta e o consumismo desenfreado de uma vida de glamour iconificado nas grandes top models. A hostentação de uma vida de sonhos. De passeios em carros luxuosos, bebendo champagne e comendo caviar.
Esse é o fetichismo criado pela sociedade capitalista e que limita a nossa visão na identificação da nossa real necessidade: a busca da plenitude humana. Esse fenômeno já foi enunciada por Karl Marx no século 19, mas o despertar da alienação está cada vez mais distante numa sociedade que produz seres cada vez mais individualistas. Será mesmo que nós ativistas estamos no caminho certo para reverter essa situação alienante?
Acampamento Intercontinental da Juventude. Em outros Foruns, ate o sabonente para o banho deveria ser o que menos agredisse o ambiente.
Sim, essa reflexão cabe, pois ao participar de um Fórum Social Mundial que pretende construir rumos e alternativas para “um outro mundo possível”, vi que cometemos erros básicos na forma de encaminhar esta discussão. A começar pelo montante de lixo produzido durante os dias de Fórum. Por todo lugar que você andava dentro do território do FSM, eram pilhas e pilhas de lixo sendo gerado a todo instante. As ruas de Belém, que já não eram um exemplo de cuidado com o lixo nos dias que antecederam o Fórum, durante o evento foram tomadas pelos mais variados tipos de entulhos. O mais assustador ficou para o acampamento da juventude instalado na UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia). Regiões de floresta que compunham o campus da Universidade, passaram a absorver em sua paisagem quantidades absurdas de lixo. Vozes roucas naquele espaço, pregavam placas pedindo para que o lixo não fosse jogado naquele local.
Como podemos discutir rumos para sociedade, sem discutir como a nossa existência enquanto sociedade intefere neste sistema planetário. Como podemos tornar a sobrevivência de nossas civilizações símbolo de vida e não de morte e destruição como os indicadores ambientais estão demonstrando?
Mesa de debates promovida pela Fundacao Friedrich Ebert sobre fundos monetarios para preservacao ambiental. Sera que os paises ricos devem decidir por nos?
Alguns debates dentro do próprio Fórum até tentaram pontuar caminhos. A Fundação Friedrich Ebert, realizou uma mesa de discussão na qual foram trazidos um membro do parlamento alemão, um membro da autoridade ambiental da Africa do Sul e outra do Canadá e o professor brasileiro Kjeld Jacobsen. Os extrangeiros pontuaram que o caminho pode estar na criação de fundos internacionais com a contribuição de diversos países para que se possa investir na preservação das florestas e o tratamento do lixo. Já Kjeld foi enfático ao dizer que os problemas da degradação estão fundamentados diretamente no seio do sistema capitalista, do estímulo desenfreado ao consumo. Será que devemos sentar e esperar os países ricos criarem fundos para administrar a crise e empurrar a sujeira do tapete para os países ditos “em desenvolvimento”? Será que devemos aguardar as esmolas, enquanto o consumos frenético dos países do norte acabam com a vida na Terra?
Neste sentido, ou quebramos o sistema, ou ele quebrará o planeta. Por isso, reflito se não está na hora de impormos um ritmo mais radical para quebra das engrenagens que movem o capitalismo mundial. Ações mais enfáticas que gerem um verdadeiro colapso das estruturas. Gostaria de visualizar formas táticas de isso acontecer. Meu desejo verdadeiro seria ocupar o horário do fantástico e expor conteúdos que plantassem a reflexões destes temas. Por que não, que gerassem também um pouco de caos. É, talvez seja isso, estamos muito acomodados com os indicadores econômicos crescendo, com o nível do emprego bastante confortável e com a renda do trabalhador aumentando. E neste momento somos tomados por uma inércia anestesiante.
Essa inércia me preocupa. Quanto mais inertes estivermos, maior será o nosso choque contra o muro do fim do mundo, ou melhor, o muro do fim da humanidade.