Corumbá, 19 de dezembro de 2007.
Eis que chegamos a Corumbá. Após recebermos ampla ajuda dos companheiros petistas de Campo Grande. Um agradecimento especial aos companheiros Nilo e Serginho.
É estranho chegar a essa cidade que é portao de entrada para que vai do Sul/Sudeste para a Bolívia. Em quatro vezes que fomos pra lá, em nenhuma adotamos este caminho convencional. Agora estamos estamos nessa rota por se tratar do caminho mais curto e mais rápido. Antagonicamente, nunca demorei tanto para chegar a Bolívia quanto desta vez. Esses 3 dias estao sendo eternos. Ainda tenho coisas para resolver.
Ontem participamos da posse do diretório estadual do PT do Mato Grosso do Sul. Em meio a discussoes apáticas (em um deles o ex-presidente chegou a valorizar a alianca do Partido com a direita) destacou-se a fala do Pedrao, condidato pela chapa “Mensagem ao Partido” do MS. Pedrao colocou o papel da juventude como fundamental e o processo na América Latina irreversível!
A noite ficamos esperando 6h pelo onibus que nos traria até aqui, o que me permitiu ler muito do Baghavad Gita e obter alguns ensinamentos que me fizeram relaxar toda a tensao que sentia.
Depois da leitura, saí para jantar com Emanuel e seu recém-amigo Paulo. Paulo era um mala que encontramos na rodoviária, mas que tinha o coracao puro e muita história para contar. Estava indo para Corumbá rever a família e tentar trabalhar na construcao de fornos de carvao na Bolívia. Antes disso ele estava numa cidade chamada “Inaraí” como cortador de cana. Reparti meu PF com ele e tomamos duas cervejas.
Foi aí que conheci sua história com a uma boliviana chamada Bibiana. Lindo nome, diretamente dos histórias de Érico Veríssimo, as mesmas histórias que já conhecia e da mesma personagem, pela qual já me apaixonei.
Mesma com as juras de amor, Paulo e Bibiana nao derao certo. Bibiana, como típica boliviana, gostava muito de sopa. Paulo, o brasileiro, muito de feijao com arroz. É, quando nao é pra ser, nao adianta insistir.
Agora é manha em Corumbá, já estávamos circulando pela cidade quando as lojas abriram. Fomos mirar a bela vista do pequeno porto a beira do rio Paraguai, este que é a principal hidrovia e tem grande importancia para a regiao. Aproveitei e fui até o Banco do Brasil fazer um depósito em minha conta para que possa sacar de lá da Bolívia. Neste período, um senhor veio até mim pedir-me ajuda para realizar um saque. Estes sistemas de banco sao uma merda, facilidades para depositar, dificuldades para sacar. Neste momento o senhor fez com que a esposa se posiciona-se para sacar. Como é meu costume, coloquei-me a disposicao para ajudar a fazer a transacao, nao fazer por ela. Foram 15 minutos para tirar um saldo e fazer um saque. Procurei estar paciente neste período, enquanto o senhor parecia irritado com a esposa pelo erros que ela cometia fazendo as operacoes. Na mesma hora, refleti sobre acontecimentos pessoais maus em que nao fui tao paciente para ensinar e me vi dali 50 anos como um velho ranzinza que acha que sabe tudo, mas nao sabe compartilhar seu conhecimento. Acho que terei uma nova atitude daqui pra frente.
Segundo os escritos sagrados do Baghavad Gita, os seres vivos estao neste plano simplesmente como servicais. Cada pessoa serve a outra num ciclo infinito neste plano material. Alguns destes servicos podem ser trabalhos nossos neste plano, estes sao chamados karmas. Ou seja, nao podemos reclamar ou nos tornar indispostos para servir ao outro, na verdade devemos faze-lo com amor e com compreensao, nao esperando nada em troca neste plano material, mas sim uma paz superior naquilo que chamamos de alma.
Neste momento, já estamos em Puerto Quijarro aguardando o trem. Depois de sermos informados que nao haveria passagens para hoje, falamos que éramos um meio de imprensa e nos conseguiram uma passagem para daqui a pouco.
Vamonos! Vamonos a Santa Cruz!
Fotos por Emmanuel Peixers