Interessante que a galera se mobilizou em torno do tema e percebeu que a repressão a “um bando de maconheiros” tinha algo sutil por trás disso.
É interessante também que vejo muitos companheiros e companheiras que antigamente olhavam com desdém a luta pela legalização da maconha (contra a criminalização das drogas), dizendo que essa não era pauta de luta fundamental e que se negaram a debatê-la por ela não ser estratégica.
Lembro também que em 2008 quando a Marcha da Maconha em Curitiba foi duramente reprimida por forte aparato policial e com vários manifestantes presos (Eu, Marco Antônio Konopacki, Érico Massoli Ticianel Pereira, Karine Muzeka e mais duas meninas que foram presas porque tinham camisetas com escritos pela legalização), pouco se falou entre os nossos redutos de debate e nossas organizações. Muitas vezes era o sentido anedótico do fato que chamava mais a atenção dos companheiros e companheiras, mas pouco se procurou olhar para além do que a “repressão a maconheiros” representava. Nós na semana seguinte até tentamos incentivar um ato pela liberdade de expressão, mas a ideia caiu rapidamente no “deixa pra lá”.
Dois meses depois os manifestantes presos foram se apresentar ao tribunal. A promotoria que oferecia denúncia contra a gente arquivou nosso processo com base no Art 5 da constituição que garante a liberdade de expressão. Num esforço em retomar novamente o debate, fizemos com que essa notícia corresse nas nossas listas de discussão, mailings de imprensa e espaços de militância e debate. Mais uma vez a notícia só passou.
Estou escrevendo esse texto não como desabafo ou uma cobrança para conosco. Eu senti na pele a repressão por não poder me manifestar, mas esse fato me trás mais curiosidade do que remorso. Enquanto estudante de ciência política não posso de deixar de me perguntar: o que há de diferente agora? Quais variáveis conjunturais permitem que a mobilização floresça ao contrário de 2008? Porque antigos militantes que olhavam com receio pra causa, agora inclusive estão no front de mobilização?
Indagações a parte, fico muito feliz pelo resultado que a Marcha da Liberdade vem trazendo para ativar a mobilização entre as nossas bases. Sem a garantia desse direito fundamental nenhuma sociedade avança. Sem a utopia da emancipação dos homens e das mulhers para além das amarras materiais que os prendem, não há motivo para se viver e se conquistar algo que nem mesmo temos idéia de como seja, mas que para tentar compartilhar a esperança em um dia alcançá-la a chamamos de LIBERDADE.
Participarei da Marcha no Rio, mas com certeza também gostaria de estar compartilhando esses momentos com meus companheiros e companheiras em Curitiba. Espero que cada uma na sua cidade possa também se mobilizar nesse próximo dia 18 de junho para deixar claro que LIBERDADE NÃO SE COMPRA, LIBERDADE SE CONQUISTA!
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